1964 - A partida

1963 – A ESCOLA ACABOU

 

1963 – A escola acabou, a vida começa, havia 2 opções: continuar a estudar ou ir trabalhar, trabalho na época não faltava, pelo menos em Veneza. Tinha que fazer uma escolha. Mas a qual?
Nesse tempo os pais é que mandavam em nós e não os podiamos contredizer, claro que eles falavam para o nosso bem, o meu pai dizia-me sempre: “Se tu quizeres ter a minha arte eu prefiro partir-te as pernas”, ele era electro-galvanizador, sempre nos ácidos, nas poeiras, e sem nenhuma proteção, ele sabia os riscos que corria e desejava-me uma situação melhor.
Tomei então a decisão de me inscrever na faculdade de medecina, mas era sem contar com a opinião do meu pai que recusou a minha escolha dizendo: “ Eu concordo em pagar-te os estudos universitarios mas em direito e não em medecina”. Nunca vim a saber o porquê dessa recusa, então afim de continuar os estudos, increvi-me na faculdade de direito de Padova.
... 5 mêse mais tarde, voltei para casa dizendo ao meu pai que o direito não me correspondia.
E foi assim que eu fui trabalhar como empregado de mesa para a Praça São Marco, café Lavena durante a época de Verão. Ganhava muito dinheiro mas tinha outras ideias, eu só tinha aceite este trabalho para ganhar um pouco de dinheiro.
Durante esse período, conheci uma jovem italiana que estava de férias em Veneza, que tinha imigrado par a Bélgica com sua mãe com 3 anos. Por acaso a tia dela morava no meu bairro. Conheci-a pelo meio de um amigo, Nico, que era seu primo, que me a apresentou. À tardinha fomos dar um passeio por Veneza, correu tudo muito tão bem que no fim da férias trocamos as nossas moradas, ela prometeu-me que me ia escrever, o que aconteceu.
Contínuamos durante um longo período apòs a sua partida a escrever-nos.
Entretempo, tive que me apresentar por causa do serviço militar à consulta médica, não fui aceite na marinha por causa do meu acidente de espeleologia na gruta.
Reformado, deceptionado porque queria tentar fazer carreira na marinha, decidi ir para a Bélgica.
Quando disse ao meu pai a decisão que tinha tomado, recebi uma recusa categórica e imediata.
Os seus motivos eram simples, ele disse:”Nesta casa não te falta nada, tu não precizas de imigrar, e muito menos para a Bélgica aonde existe uma obrigação de trabalhar na minas. Com que nem penses nisso, nunca te darei autorização para a obtenção do passaporte.”
De facto eu era menor e por isso precisava da assinatura do meu pai. Então decidi esperar, para acalmar a situação e encontrar outra forma de agir.
A ocasião apresentou-se por via de um amigo de volta de férias da Alemanha, a quem eu pedi de arranjasse um contrato de trabalho de 1 mês. O meu amigo entendeu o pedido e dentro de pouco tempo enviou-me o contrato. Restava agora falar com o meu pai e explicar-lhe que já não iria para a Belgica, mas sim para a Alemanha por uns mêses, e que de qualquer maneira não poderia lá ficar mais tempo porque o meu passaporte só era válido durante 3 mêses e que eu tinha a obrigação de fazer o serviço militar no exército.
Convenci-o e ele então foi se apresentar à prefeturia para dar o seu acordo, mas o que ele não sabia era que o passaporte era válido para 28 estados, incluíndo a Bélgica, mas isso ele veio a saber mais tarde.

 

1964 – A PARTIDA

Decidi partir no dia 5 de Outobro de 1964, depois do meu aniversário, mas alguns dias antes dessa data, recebi a convocação para ir para a tropa, para a visita medical e para prestar 3 dias no quartel. Tinha que me apresentar no dia 9 de Outobro para sair no dia 11. Só me restou atrazar a partida até ao dia 11, apòs a minha saida da caserna.
Saí da caserna ao meio dia, a bagagem já no depósito de bagagens, e na estação de caminho de ferro estava a minha mãe e a minha tia Licia à minha espera. Comigo estava o Mario, um amigo que tinha decidido começar a aventura sem contrato.
Tinhamos deixado a Itália em direção a Garmisch Partenkirchen em Baviera na Alemanha e com destinação ao Sheridan Plaza Hotel, hotel situado numa base aéria americana. Quando lá chegamos perguntei imediatamente ao administrador, que falava italiano, se ele podia contratar o Mario, e depois pedi também se eu podia ir uma semana à Bélgica e voltar, ele aceitou.
No dia seguinte parti para a Bélgica ao encontro da rapariga que conheci em Veneza, aonde fiquei uma semana e depois voltei ao meu trabalho na Alemanha durante um mês como ficou inicialmente previsto.
Que surpresa, quando voltei o Mario já lá não estava, tinha-lhe emprestado dinheiro antes de partir para a Bélgica, porque ele não tinha nenhum, o necessário para ele viver uma semana sem mim. Vim a saber mais tarde que no dia da minha partida, à tardinha, ele se tinha comportado mal e que o diretor o tinha despedido. Desde então nunca mais o vi.
 
Anos mais tarde vim a saber que após várias aventuras ele tinha casado com uma canadiana e emigrara para o Canada.
Trabalhei no hotel durante quinze dias como empregado de mesa, estava tudo a correr lindamente, mas depois o hotel fechou para fazer obras e eu fui trabalhar com um alemão que falava italiano, uma pessoa boa. Ele explicou-me que durante a guerra, que ele não desejou, tinha ido trabalhar par a Itália, tinha desertado e procurado refúgio junto de uma familia italiana, e foi assim que tinha aprendido o idioma italiano. Juntos tinhamos de fazer trabalhos de manutenção.
 
Um dia ele pedio-me para ir com ele para casa, queria apresentar-me à familia, aceitei, e conheci então a sua esposa e a sua filha, uma bela rapariga que falava um pouco italiano aprendido com seu pai. Visitei-os várias vezes. Um dia à noitinha, disse-me que estava cansado demais para me ir levar ao hotel, e propos-me que dormisse là em casa, eu aceitei.
Grande foi a minha surpresa, quando durante a noite fui acordado pela sua filha deitando-se ao meu lado. Tive medo que o pai dela notasse alguma coisa, mas isso não aconteceu, passou-se tudo bem.
A moça estava apaixonada por mim, mas eu pensava naquela que tinha de ir encontrar na Bélgica. Por outro lado não queria deceptionar Grethe, decidi então, aproveitar a situação até à minha partida.
Mais tarde tive remorços, talvez porque ela fazia projetos, mas também porque no fim do mês de trabalho eu fui-me embora sem dizer nada a ninguém, desapareci complétamente da vida dela. Ninguém sabe quanto tempo se tera questionado. Pensando nessa época e nessa aventura, acho à vezes que : “Franco foste um verdadeiro estafermo”.