1999 – UMA VIDA NOVA
Depois da partida de minha mulher fiquei só, vivia sozinho e talvez que inconscientemente tivesse medo da solidão, pois não fiquei sozinho por muito tempo.
Dois meses depois da partida dela, conheci a irmã da minha ajudante de cozinha.
Não demorou muito tempo para que passassemos a viver juntos.
Chama-se Elda. Sou muito feliz com a Elda, ela é muito mais nova que eu, razão pela qual eu ao princípio não me queria relacionar com ela, mas tenaz e teimosa com ela é conseguiu que eu mudasse a minha opinião.
Nesse período, e já antes disso, eu fazia emissões de rádio, numa radio libre de Bruxelas “Radio Alma”, também para lá levei a Elda, ela secundava-me durante as emissões destinadas aos italianos com o programa Buona domenica (Bom domingo), a sua presença trazia algo de juvenil a um programa já bastante popular, graças também aos ouvintes que nos ligavam em direto durante a emissão. Foi a transmissão que tinha tido a maior auditoria da rádio. Essa rádio era uma rádio que transmitia em 5 línguas para as diversas comunidades.
A minha transmissão preferida consistia em organizar debates sobre diferentes matérias da atualidade com convidados no estúdio e em direto, dava-me prazer por achas na fogueira para animar as discussões, mas quando as coisas escalavam também as tinha que acalmar.
Houve outros programas que também me deram muita satisfação, entre eles estava um programa aonde era preciso aumentar o auditório das emissões culturais, habitualmente evitadas pela maior parte das pessoas, então combinavamos a cultura italiana com prémios e organizavamos emissões em direto desde o estúdio assim como emissões no exterior retransmitidas en direto. Foi um enorme sucesso, o programa chamava-se “Em passeio pela Itália” e tinha por fim dar a conhecer aos italianos e aos outros a Itália. Durante a várias finais, tive a ajuda do Vito, um grande amigo, ele mesmo animador de rádio, que com o seu ar severo servio de notário face ao público, ele decidia da validade das respostas dadas pelos participantes.
O interesse pelo programa devia-se aos prémios distribuídos aos vencedores que eram viagens sponsorizadas tais como fins de semana em Veneza, Florença, Roma ou uma semana num hotel 5 estrelas em Sardenha, etc.
Noutros programas consegui entrevistar alguns artistas italianos, entre eles o Vasco Rossi, Laura Pausini, Angelo Branduardi, Jovanotti, Formula 2 e outros menos conhecidos.
A rádio organizava também noitadas, cujos participantes eram os italianos de Bruxelas, eles vinham em força, eram sobretudo eles os nossos auditores assim como a suas famílias, amigos, etc. Noitadas nas quais tinhamos que recusar pessoas por falta de lugares. Eramos todos voluntários e tinhamos prazer nesse tipo de eventos, porque em Bruxelas eram poucas as atividades desse genero, nas quais os italianos se podessem reúnir, trocar ideias, socializar, porque as vilas de grande dimenção conduzem ao isolamento.
Fiz parte dessa rádio durante 10 anos. Tive que deixar essa atividade quando fui viver para as Ardenas Belgas.
De facto tinha decidido junto com a minha nova companheira de ir viver para o sul da Bélgica, entre florestas de pinheiros, numa aldeia calma, longe du barulho e da poluição da grande cidade aonde viviamos. A Elda tinha planifiado à muito tempo ir viver para essa região, longe da cidade. Não me desagradou ir viver para essa região depois de ter vivido mais de 30 anos em Bruxelas.
2004 – DECISÃO RADICAL
Em 2004, uma decisão radical, eu quiz virar a página, cortar com todos e com o passado, guardei alguns contatos, pessoas raras que revejo com prazer, são tão poucas que as posso contar nos dedos de uma mão.
Cortei relações com aquelas pessoas que se faziam de amigos, pois depois da minha queda (que eu quiz) tive que encarar a evidência, a maior parte das pessoas em quem eu tinha confiança e por as quais eu tinha consideração, eram simplesmente oportunistas, de facto todas me fecharam a porta.
Achariam eles que eu iria lhes bater à porta à procura de ajuda ou de dinheiro? Não, eles enganaram-se bem, não precisei deles.
Além da minha deceção tive a possibilidade de os conhecer realmente.
Hoje, em 2006 eu trabalho ainda e sinto um verdadeiro prazer nisso, podia pedir a pensão, mas que faria eu em casa todos os dias? Sentir-me ia inútil , ainda me apetece trabalhar e em quanto for capaz, eu continuarei a trabalhar, ou pelo menos enquanto o trabalho me trouxer satisfação, naturalmente também até que a saúde o permita.
Hoje, dia 3 de outubro de 2006, 62 anos, a minha principal satisfação vem do meu patrão, ao mesmo tempo que me dava os parabéns com uma garafa de champanhe na mão, pedio-me que travalhase par a firma mais 15 anos ao menos... Ele é maluco e anúnciou-me também que tinha encomendado um carro novo para que depois não precisasse de utilizar o meu. Não estava à espera disso.
Com a Elda o tempo passa mas eu não noto, ela trouxe-me o prazer de viver de volta, serenamente, ela despertou em mim o bom humor que eu tinha perdido, reencontrei-me graças a ela. Agora, de novo eu começo a receber regularmente o meus filhos, sobrinhos e netos.
Nós, eu, a Elda e a sua filha Cristina, damo-nos bem e quando estamos cansados de estar em casa pegamos no carro e vamos dar uma volta,volta que às vezes se transforma numa longa viagem, não é a primeira vez que decidimos à noite que no outro dia de manhã partiremos para a Itália.
Porquê complicar a vida, problemas já tivemos que chegassem, chega agora, vivamos o presente porque o futuro ninguém sabe de quê ele sera feito, e o que nos reserva.
Um amigo dizia com frequência: “O que estará atraz du canto?” É verdade, nós não sabemos o que nos espera, então, ...